quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

Quem me dera ser puto


Quando era criança, era pobre de bens, rico de mim.

Os miúdos são livres, dentro das amarras dos pais e das condições que lhes dão, das peças que têm. Criam ilusões, experimentam, testam os limites. Vivem. Constroem palácios e sonhos.

Depois, na juventude, onde se leva o arrojo aos limites, ganham ferramentas para a vida adulta. Com arrojo, as crianças e os jovens treinam os músculos da mente e os do coração para novos desafios. Por vezes, fazem conquistas que eu já não estou capaz de fazer. 

Crescer é, também, perder o medo de ter medo, ganhando as amarras de estar na norma e saber obedecer. Quando adultos, carregados, que nem burros, de bens imateriais, de conceitos, teorias e convicções, cada vez mais consistentes e persistentes, ganhamos MEDO. 

Hoje, tenho medo! Medo de tantas coisas. Ele entranha-se nas ideias, nas palavras, nas consciências e nas experiências. Anda, comigo, de braço dado. Atrasa-me o passo e a vida. Protege-me e nem dou por ele.

Será que ser velho é ter medo? 

Então, ainda bem que tenho em mim uma criança ingénua que me ajuda, ainda bem que dou aulas e tenho filhos. Será que eles existem para manter viva a criança que ainda sou, algo escondida?

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