terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

Viva a língua e o AO


Se bem me recordo, fundados nas leituras de gente sábia, o João e a Teresa, amantes de poesia, concordavam: «A língua é como um rio, sem margens, desaparece!»; e rematavam: «Diz-se que o rio, em torrente, é violento, mas ninguém fala da violência das margens que o comprimem».

A língua é uma alma viva. A semente de grandes poetas, dos sacerdotes e de nós, tristes magotes. Felizmente, pela mão do povo, dos escritores e de ilustres pensadores, transgride as suas margens, continuamente. Evolui, tão mais rápida quanto viva. Ora viva!

Mas nós, racionais limitados, precisamos de a manter dentro das margens em que a queremos. Gramaticamos. Com essa incapaz ferramenta de a conter, tão difícil de aprender.

O Português é uma nação, de 270 milhões de falantes, solo e semente de muita gente. Para manter a língua, num esforço sempre falente, de vez em quando, ao fim de vários anos, negociamos Acordos, Ortográficos. Respostas incompletas, opressoras, pensadas, debatidas, legitimadas. São compromissos assumidos! Fazem-se Lei, participada, suada!

Mas tal como a língua, muita gente foje à margem que se traçou. Simplesmente, porque «não quero», «não aceito», «não gosto»! Outros, como eu, não gostam dos AO. Mas, com decência democrática e o respeito de cidadania, aceitam, com naturalidade uma decisão superior. Não são prepotentes e ditadores. Responsáveis e conscientes respeitam o trabalho de muita gente.

Afinal, a língua é um universo fulgurante e vivo, que se entende como um rio. Tem margens, que a oprimem, mas, de tempos a tempos, livre, ela transgride. Tudo o resto são tretas de egos menores, partículas insignificantes de um universo extasiante. A língua faz-se assim! É um tesouro, ar e água, solo e semente, para mim e para muita gente!

3 comentários:

  1. Concordo plenamente com o argumento. A língua portuguesa, como língua viva que é, usada num espaço pluricontinental por povos e etnias com costumes muito diferentes entre si é e pode ser utilizada como instrumento geopolítico de valorização dos mesmos nos fóruns internacionais.
    No meu tempo de ensino secundário ficaram célebres as mortificações e terrores da boa aplicação das regras gramaticais que causaram pesadelos a muita gente e que possivelmente sejam estes a defenderem o dogma da imutabilidade do português de Portugal ... será masoquismo ?!!

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    1. Sorrisos cúmplices, sobre as incoerências e, porque não dizer, sobre as tristes xenofobices disfarçadas!
      TUDO DE BOM Fernando, gosto de te ler por aqui!

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    2. Quem não é surdo e viaja nos comboios da linha de Sintra, como é o meu caso, muito devido às conversas tidas à vontade nos telemóveis pelos utentes, é um espectáculo ouvir - sem muitas vezes perceber ... - a quantidade de dialéctos africanos, indianos, da Europa do Leste, chineses que cantarolam e numa perfeita cacofonia que por vezes fecho os olhos e fico sem perceber muito bem em país é que eu estou ...
      Tristes xenofobias já as vi e sem serem disfarçadas mas isso já lá vão uns anos. Hoje não sei se é indiferença ou se é tolerância.
      Mas há um facto que ressalvo eu já vi e ouvi brasileiros, angolanos e moçambicanos a expressarem-se melhor (no vocabulario e musicalidade)o português que os portugueses de Portugal (vocabulário (esqueceram-se dele em casa ... e musicalidade = 0).
      Um abraço Álvaro, tudo de bom também para ti.

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