domingo, 5 de fevereiro de 2012

O mentor de turma


Proponho uma mudança radical na escola: a substituição do «diretor de turma» por um «mentor de turma». 

O primeiro, com dificuldades, vai desempenhando o seu papel de controlar a relação entre escola, alunos e pais. O segundo estaria centrado em acompanhar e educar, articulando a mesma relação para garantir sucessos dos alunos e dos professores.

As pessoas mais abastadas, desejando o melhor para os seus filhos, entregam a sua educação a mentores para lhes ensinarem técnicas (limitados pelos seus saberes) e os educarem para o melhor.

Desde que a escola se transformou numa máquina de ensinar saberes a uma multidão enorme de estudantes (em Portugal, ocorreu com a reforma de Veiga Simão, em 1973), sem referencial educativo para além do sistema racional da era moderna, passou a falhar na educação! Criou brilhantes técnicos com uma ética indecente. Abriu portas para a canibalização social dos mais fracos!

No 2º e 3º ciclo do ensino básico e no ensino secundário, existe uma considerável quantidade de professores com horário reduzido ou zero. Podiam desenvolver um papel excecional: o de «mentor de turma». Que substituiria o diretor de turma, ganhando tempo para articular o trabalho dos professores e personalizar o ensino.

Estes professores, em termos letivos, trabalhariam apenas em «educação cívica» e «aprendizagem acompanhada» (aprendizagem é muito mais do que estudo), seriam responsabilizados pelo sucesso dos seus mentorandos – sempre, apenas, numa turma -, de modo a transformar o que de bom existe nas escolas. Especializar-se-iam em articulação e sucesso escolar. O que, para muitos, está a faltar.

5 comentários:

  1. Actualmente já não existe Director de Turma. Chama-se Professor Titular da Turma. Mas chamemos-lhe o que quisermos... não é pela designação que o professor passa a ter competência para a função, para "...acompanhar e educar,articulando a mesma relação [escola, pais e alunos] para garantir sucessos de alunos e professores". E depois, o que faz dos professores com horário zero serem capazes de desempenhar tal tarefa? Afinal não seremos todos nós, professores de qualquer disciplina responsáveis por aquilo que o Álvaro propõe?!

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    1. Primeiro que tudo, gostaria de dizer que a minha proposta não pretende ser ofensiva! É, simplesmente, uma proposta. Obrigado pela reação!
      Em segundo lugar, gostaria de dizer que o título (a forma) é menos relevante que o efetivo desempenho (o conteúdo)!
      Continuarei a chamar «diretor de turma» porque até hoje, não vi nenhuma alteração significativa da intervenção dos professores devido a este novo título!
      Depois, tentando responder às suas questões, gostaria de esclarecer que os professores com mais tempo disponível poderão dar mais atenção a cada um dos alunos e mais apoio a cada um dos professores. Desde que o queiram, lhes seja exigido e o seu esforço e resultados seja reconhecido pelos outros. E, eventualmente, numa primeira fase, a componente mais importante desta medida poderá ser a de apoio aos colegas!!!!!!
      Depois, gostava de concordar com a ideia de que «todos somos responsáveis», mas bem sabe que ser responsável por dar aulas a 4 a 8 turmas e, ao mesmo tempo, ser titular de turma, não nos liberta emoções nem tempo para investir no desenvolvimento dos diversos intervenientes e das relações entre eles, por muito que o queiramos! E, muitas vezes, isso é mais relevante do que o resto.
      TUDO DE BOM

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  2. Publico aqui em nome de Clara Silva um excelente contributo sobre este tema!

    Não gosto do termo mentor, mas, na realidade, o que menos importa é o nome dessa "entidade". A natureza da sua "função", essa sim, importa discutir e pensar. É evidente que o DT, o TT, ou como quer que lhe chamemos, tem de ter formação. E o grande problema, entre nós, continua a ser a fraquíssima formação inicial do professor. É preciso que os candidatos a professor tenham conhecimentos muito sólidos sobre aqueles que vão ser objecto da sua intervenção, os alunos, que, porventura, irão marcar para a vida. É preciso, também, que conheçam e dominem muito bem as matérias que vão ensinar. 
    O professor tutor, mentor, titular, tem de ter consciência clara do seu papel de facilitador, de clarificador, junto do aluno, do mundo hermético e elitista que é a escola. Não tenho dúvida nenhuma sobre o que afirmo. A grande maioria dos alunos portugueses provem de famílias cujo pensamento sobre a escola é nulo, ou distorcido. Muitas crianças não conseguem entender os meandros da realidade que vão enfrentar e, regra geral, são tratadas como se já estivesse tudo explicado, tudo ensinado. É-lhes exigido que se movimentem com facilidade em caminhos que não conhecem, que respondam a desafios para os quais não foram preparadas, que façam "acrobacias sem rede". Em meu entender, o professor mentor, tutor, titular.., ou seja, alguém muito atento ao(s) aluno(s) que tem à sua responsabilidade, seria, de facto, o elemento mais importante desta cadeia, o interlocutor primeiro da criança, no universo da escola. 
    Porque não é possível integrar na sociedade quem não a conhece, não é possível formar cidadãos a partir de nada, a formação cívica deve ser um espaço importante na escola. 
    A partir, por exemplo, da leitura de obras literárias, ao longo de muitos anos, vários professores que conheço trabalharam e trabalham, ainda, nesta perspectiva, articulando as actividades das aulas de FC com as disciplinas curriculares. A dinâmica que se estabelece entre o professor responsável, na circunstância, o DT, permite abrir novos horizontes à grande maioria dos alunos; é certo que isto obriga os professores a um grande esforço, mas ele é quase sempre compensado pelo reconhecimento de que a sua acção terá em reflexos positivos na vida dos alunos. 
    A escola portuguesa tem de ser repensada e passa, certamente, por um olhar diferente para as práticas de todos nós.

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    1. Obrigado Clara. Sabedoria destilada pelos anos de profissão apaixonada!

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  3. Todos os contributos por forma a recriar o ensino em Portugal são positivos e louváveis diria mais, nos tempos que decorrem, corajosos. Todavia, a proposta em consideração revela-se nada exequível em dois aspetos:
    1º estrutural – os referidos horários são “sobras” remanescentes da economia educativa que se banalizou e agravou nos últimos anos. Assim, apesar de aceitar e concordar, não objectivo a solução apresentada pois é derrubada pela parede dos cifrões (a exemplo, considerem-se as medidas, reais, levadas a cabo para responder ao ensino especial);
    2º cívico – as competências do DT deixam em aberto a possibilidade de acompanhar integralmente o grupo turma, bem como o desempenho de cada um dos seus elementos (mas o tempo, para tal! E a multiplicidade de funções, níveis, nº de turmas, nº de alunos!) . No entanto, tendo em conta o acentuado profissionalismo que em geral existe, considero que deve haver uma diferenciação de papéis, a saber, o DT deverá ser o elemento de diagnóstico e o mentor o paliativo, mas nunca para a turma mas sim para grupos de alunos que apresentem afinidades cognitivas ou de interesses de forma a responder e a respeitar o indivíduo.
    A figura do mentor de turma tem algum paralelo com o papel do professor tutor que existe em figura de lei, mas ao qual não se recorre muito (talvez por ser um contributo sem retributo!).
    Sendo provocador deixo um desafio: qual a razão de ser de um Ministério da Educação e… se tutela o Ensino Básico, o Ensino Secundário, o Ensino Superior?

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