Sou rico. Muito rico. Ouvi contar
histórias, sentidas, vividas, que emocionam multidões, através das
gerações. Nas palavras carinhosas, aconchegantes dos meus avós.
Tive sorte. A vida dos meus pais e avós juntou-nos nas mesmas casas, mais humildes, em muitos momentos comuns. Tiveram tempo para nos contar belas histórias de encantar sobre a vida que viveram!
Sofreram e
riram, vaguearam pelo mundo, quando as viagens duravam meses. Conheceram o magnífico império português: Elvas, Mafra, São Pedro de Moel, Timor, Macau, Java, Goa,
Damão, Moçambique. Carregaram recordações que presentearam,
simpaticamente, nas histórias que nos contaram. Que bom que é. Que doce
que foi!
Sou rico! Tenho ainda, e por muitos
anos, a voz dos meus avós, impressa, bem gravada, nas histórias
encantadas que gostavam de contar. Hoje, algures no céu,
protegem-me, inspiram-me, são os «anjinhos da guarda» que a avó
dizia existir. Aqui, são sonhos, pedras
preciosas, tesouros enormes, valores ingénuos, da minha razão.
Uma vez, há muitos anos, lembro-me de ouvir a avó dizer: «Não lhe dêem legos nem carrinhos. Ele gosta
mais de beijinhos.» A velhota tinha razão. As prendas vão-se, as
recordações ficam, gravadas como ferro em brasa, guardadas no
coração.
É este singelo sentir que vejo hoje,
tristemente, afastado do devir. Os velhos morrem sozinhos. Mais do
que isolados, abandonados. Porque, muitas vezes, já não
podem, nem sabem, ser avós!
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