Durante anos vivi em Lisboa,
fora de contexto. Senti-me deslocado, provinciano, bacoco! No meio de olhares críticos e de
sorrisos jocosos que espezinhavam, mostrando-me que, por ser
diferente, era inferior, estúpido, sem condição! Cá fui andando,
muitas vezes, sem paixão.
Hoje não, sinto-me solto, livre e
desenvolto!
Nascido em terra de pretos. Terra que
amo, terra que sou! Vivido em Abrantes, na barraca sem luz nem
retrete. Em Lisboa, no Cacém e no calvário. Vivido só e triste,
perdido e desalinhado, desencontrado, todos os anos num mundo novo,
construí-me... porque calhou!
Passei na casa do Sr. Major, com regras
austeras, rigorosamente cumpridas por três criadas de nobre trato.
Dormi em recato, perto do mato. Em terra de toiros que me guardou.
Tive o prazer de viver no campo,
cultivar espinafres, subir a árvores e namorar princesas. Grandes
belezas! Doces, ingénuas, lindas, mas não indefesas, com nobres
rosetas que deixam saudade. Aconchegado em sonhos, vivi desacatos,
junto de chulos e pegas. Jogando à batota por entre nesgas, jantando
na messe dos oficiais, e outros que tais!
Aos 15 anos, foi vida demais!
Hoje, gozo a snobeira estúpida dos
criticadores, dos urbanitas inferiores, senhores professores
doutores, que sarcasticamente, olhando-se ao espelho, comentam os
provincianismos dos outros!
Olho-os com o desdém que me merecem!
Limitados, espíritos fechados, pobres sofridos e desgraçados.
Tristes vergonhas de gente podre. Espíritos menores que sofrem de
medo.
Sinto-me azedo, mas, simplesmente,
vingado! Alegre e chocado, com a minha maldade!
É este o sentir agridoce de quem
saboreou a poesia do campo, conheceu o saber do mato, soube ser feliz
no trato, porque, afinal, a felicidade é uma coisa natural, quando
não olhamos os outros a mal e os sabemos acolher em tudo o que são!
Parvalhões, vinguei-me da humilhação!
Uma prosa com perfume intenso a poesia. Palavra que gostei !
ResponderExcluirObrigado, eu também adorei escrevê-lo! Saiu bem!
ExcluirForte abraço e TUDO DE BOM.