(In)disciplina, (In)segurança,
(Des)conforto são termos muito relevantes no dia-a-dia.
Existem pela ausência ou presença da confiança, de sentido e de
significado para cada momento, do sentimento de (in)justiça, da
aceitação, da conformidade e do apoio que cada um possui em cada
contexto em que se encontra.
Existem comportamentos (negativos) que
prejudicam as relações e os momentos de vida, criando um ambiente
de insegurança que ativa o instinto de sobrevivência, o registo do
medo, gerando ansiedade, respostas mais imediatas e descontroladas
aos estímulos externos, imprevisíveis, reduzindo a capacidade de
criar e reforçar ligações criativas no cérebro, reduzindo a
capacidade de aprender com serenidade.
Os ambientes confusos e inseguros são
imprevisíveis. Promovem situações e reações inesperadas,
ameaçadoras, assustadoras. Geram desconforto nas interações e nas
ações/reações com o contexto. A ausência de rotinas e regras, o
desconhecimento dos comportamentos e limites adequados para a boa
relação criam situações com elevado potencial de conflito.
A aprendizagem é um processo de
interações e adaptações ao mundo (envolvente ou contexto) que
pretende gerar poder através do domínio cognitivo do meio e da
capacidade de operar com sucesso sobre a envolvente dinâmica e
variável. A aprendizagem é reconfortante e mais fácil quando
decorre num ambiente previsível, estável e desafiante, em que o
desafio se processa acima de tudo ao nível do intelecto, havendo
segurança nas relações e nos momentos, que têm um sentido claro,
de futuro.
O segredo do sucesso na aprendizagem
está, muitas vezes, em saber combinar estabilidade, conforto e
desafio. Saber criar a instabilidade momentanea e o desconforto
transitório, nos momentos de transformação e mudança. Muitas vezes, trata-se de criar o
ambiente e o apoio que permitam gerar a mudança individual, sempre
criadora de alguma instabilidade emocional temporária.
A aprendizagem beneficia quando opera
num espaço afetivo seguro. Previsível nos momentos, nas rotinas,
nas sequências e na relação com os outros. Para isso, precisamos
de princípios e normas, de preferência negociadas e partilhadas.
Precisamos de ter confiança no contexto, nas pessoas e nos
processos.
Precisamos de criar um ambiente, um
espaço, que permita aos intervenientes serem quem são, sentindo-se
afetivamente aceites, integrados e apoiados, sem ameaças e medos,
sem necessitarem de estar à defesa, sendo desafiados,
responsabilizados, com poder, sentindo-se atores efetivos dos seus
processos de mudança, aos quais atribuem sentido (de futuro), uma
emoção no processo e no resultado, com significado (com emoção)
na relação com os outros e com a envolvente próxima e distante.
Não são apenas os alunos que necessitam deste ambiente!
Este ambiente é um processo que se faz com avaliação
(auto e hetero) contínua e formativa, analisando o percurso (pessoal
e coletivo), confrontando-se com os resultados conseguidos, com as
vitórias, os desaires e os seus mecanismos de correcção,
as ambiências e contextos.
Porque somos seres humanos,
necessitamos de sentir harmonia, serenidade, num ambiente seguro, mas
desafiante, com uma certa dose de instabilidade controlada, com
inesperados, em que podemos ser quem somos, mas, ao mesmo tempo,
colocarmo-nos à prova, em segurança, testando os nossos limites e ficando
felizes com as conquistas.
Precisamos de saber que nos controlamos
e que controlamos a envolvente, transformando-a e adptando-a a nosso
favor, com o apoio e o reconhecimento dos outros, em equilíbrio
dinâmico com o meio. Daqui advém a importância das relações
positivas, seguras, reconfortantes e desafiantes em que o nosso papél
não é reduzido a um número (de professor ou de aluno).
A qualidade do ambiente de aprendizagem
é fruto das relações em sala. É um trabalho (um processo com
muitos resultados) conjunto entre professores e alunos (os agentes em
sala de aula). É um esforço de comunicação e escuta mútua, de
aceitação e desafio. Baseia-se na negociação e definição de
regras de relacionamento, feita em conjunto, respeitando o próximo,
com um sentido e um significado vantajoso para ambas as partes.
Cria-se através da repartição de responsabilidades, da combinação
de princípios, normas ou regras, de prémios pelo cumprimento e de
punições pelo incumprimento. Consolida-se pelo treino do
cumprimento, pela avaliação contínua e partilhada, pela
valorização dos benefícios ao nível dos relacionamentos, dos
momentos, do processo e dos resultados.
A busca da qualidade do ambiente de aprendizagem sugere a negociação dos papéis e a
partilha dos poderes, a definição de atitudes e comportamentos
positivos no exercício do poder. Pressupõe o envolvimento e apoio
dos elementos externos à sala de aula: pais e
encarregados de educação; auxiliares de ação educativa; outros
intervenientes. Pressupõe a predisposição para o respeito pelo
outro, a aceitação do outro, o apoio ao outro, dentro das normas
existentes.
A aprendizagem pode ser um processo de
integração e melhoria do bem-estar, de civilização (civismo), que
se desenrola ao longo do tempo, em todas as dimensões da vida, em
todos os contextos e oportunidades.
A disciplinarização positiva,
criativa e promotora de desenvolvimento humano (individual e
coletivo) é um treino que cria hábitos, que se reforça ou
enfraquece nas envolventes em que vivemos. É um esforço conjunto e continuado de
criação de conforto e de crescimento em comunidade que cria as
condições para cada um ser e sentir-se melhor ao longo do seu
trajeto de vida.
A aprendizagem e a disciplina são alicerces tão importantes da vida como
respirar e andar. São suportes para o aparecimento do melhor que
cada um pode dar aos outros, dos talentos que podemos partilhar para nos
enriquecermos mutuamente.
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