quarta-feira, 23 de maio de 2012

(in)DISCIPLINA e APRENDIZAGEM


(In)disciplina, (In)segurança, (Des)conforto são termos muito relevantes no dia-a-dia. Existem pela ausência ou presença da confiança, de sentido e de significado para cada momento, do sentimento de (in)justiça, da aceitação, da conformidade e do apoio que cada um possui em cada contexto em que se encontra.

Existem comportamentos (negativos) que prejudicam as relações e os momentos de vida, criando um ambiente de insegurança que ativa o instinto de sobrevivência, o registo do medo, gerando ansiedade, respostas mais imediatas e descontroladas aos estímulos externos, imprevisíveis, reduzindo a capacidade de criar e reforçar ligações criativas no cérebro, reduzindo a capacidade de aprender com serenidade.

Os ambientes confusos e inseguros são imprevisíveis. Promovem situações e reações inesperadas, ameaçadoras, assustadoras. Geram desconforto nas interações e nas ações/reações com o contexto. A ausência de rotinas e regras, o desconhecimento dos comportamentos e limites adequados para a boa relação criam situações com elevado potencial de conflito.

A aprendizagem é um processo de interações e adaptações ao mundo (envolvente ou contexto) que pretende gerar poder através do domínio cognitivo do meio e da capacidade de operar com sucesso sobre a envolvente dinâmica e variável. A aprendizagem é reconfortante e mais fácil quando decorre num ambiente previsível, estável e desafiante, em que o desafio se processa acima de tudo ao nível do intelecto, havendo segurança nas relações e nos momentos, que têm um sentido claro, de futuro.

O segredo do sucesso na aprendizagem está, muitas vezes, em saber combinar estabilidade, conforto e desafio. Saber criar a instabilidade momentanea e o desconforto transitório, nos momentos de transformação e mudança. Muitas vezes, trata-se de criar o ambiente e o apoio que permitam gerar a mudança individual, sempre criadora de alguma instabilidade emocional temporária.

A aprendizagem beneficia quando opera num espaço afetivo seguro. Previsível nos momentos, nas rotinas, nas sequências e na relação com os outros. Para isso, precisamos de princípios e normas, de preferência negociadas e partilhadas. Precisamos de ter confiança no contexto, nas pessoas e nos processos.

Precisamos de criar um ambiente, um espaço, que permita aos intervenientes serem quem são, sentindo-se afetivamente aceites, integrados e apoiados, sem ameaças e medos, sem necessitarem de estar à defesa, sendo desafiados, responsabilizados, com poder, sentindo-se atores efetivos dos seus processos de mudança, aos quais atribuem sentido (de futuro), uma emoção no processo e no resultado, com significado (com emoção) na relação com os outros e com a envolvente próxima e distante. 

Não são apenas os alunos que necessitam deste ambiente!

Este ambiente é um processo que se faz com avaliação (auto e hetero) contínua e formativa, analisando o percurso (pessoal e coletivo), confrontando-se com os resultados conseguidos, com as vitórias, os desaires e os seus mecanismos de correcção, as ambiências e contextos.

Porque somos seres humanos, necessitamos de sentir harmonia, serenidade, num ambiente seguro, mas desafiante, com uma certa dose de instabilidade controlada, com inesperados, em que podemos ser quem somos, mas, ao mesmo tempo, colocarmo-nos à prova, em segurança, testando os nossos limites e ficando felizes com as conquistas.

Precisamos de saber que nos controlamos e que controlamos a envolvente, transformando-a e adptando-a a nosso favor, com o apoio e o reconhecimento dos outros, em equilíbrio dinâmico com o meio. Daqui advém a importância das relações positivas, seguras, reconfortantes e desafiantes em que o nosso papél não é reduzido a um número (de professor ou de aluno).

A qualidade do ambiente de aprendizagem é fruto das relações em sala. É um trabalho (um processo com muitos resultados) conjunto entre professores e alunos (os agentes em sala de aula). É um esforço de comunicação e escuta mútua, de aceitação e desafio. Baseia-se na negociação e definição de regras de relacionamento, feita em conjunto, respeitando o próximo, com um sentido e um significado vantajoso para ambas as partes. Cria-se através da repartição de responsabilidades, da combinação de princípios, normas ou regras, de prémios pelo cumprimento e de punições pelo incumprimento. Consolida-se pelo treino do cumprimento, pela avaliação contínua e partilhada, pela valorização dos benefícios ao nível dos relacionamentos, dos momentos, do processo e dos resultados.

A busca da qualidade do ambiente de aprendizagem sugere a negociação dos papéis e a partilha dos poderes, a definição de atitudes e comportamentos positivos no exercício do poder. Pressupõe o envolvimento e apoio dos elementos externos à sala de aula: pais e encarregados de educação; auxiliares de ação educativa; outros intervenientes. Pressupõe a predisposição para o respeito pelo outro, a aceitação do outro, o apoio ao outro, dentro das normas existentes.

A aprendizagem pode ser um processo de integração e melhoria do bem-estar, de civilização (civismo), que se desenrola ao longo do tempo, em todas as dimensões da vida, em todos os contextos e oportunidades. 

A disciplinarização positiva, criativa e promotora de desenvolvimento humano (individual e coletivo) é um treino que cria hábitos, que se reforça ou enfraquece nas envolventes em que vivemos. É um esforço conjunto e continuado de criação de conforto e de crescimento em comunidade que cria as condições para cada um ser e sentir-se melhor ao longo do seu trajeto de vida. 

A aprendizagem e a disciplina são alicerces tão importantes da vida como respirar e andar. São suportes para o aparecimento do melhor que cada um pode dar aos outros, dos talentos que podemos partilhar para nos enriquecermos mutuamente.

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