domingo, 9 de dezembro de 2012

O sentido da casa


Uma casa, não é só uma habitação! É, também, a expressão do que sou, como vivo, como me relaciono, o que imagino, o que quero ser. A casa reflete-nos. Tem os sentidos que lhes damos. É o local que me abriga, onde me escondo, me fecho, protegido. Onde recebo, se for aberta à rua, com a minha alma de hospedeiro!

A barraca pode ser mais acolhedora do que o prédio! A casa auto-construída tem um elã que a casa comprada não tem. É minha, expressa a minha vida, o meu ser, o modo como cuido dos materiais e dos outros.

Por vezes, lado a lado, encontramos duas expressões de uma realidade incompleta. A primeira, a barraca e a casa mal amanhada, está cheia de gentes, de imprevistos, de relações, de testemunhos e ligações. Por vezes, vazia de bens! A segunda, um apartamento guardado e isolado, está cheio de bens, vazia de gentes!

A casa do cabo-verdiano é viva, estende-se para a rua, ultrapassa-a, entra na casa do vizinho! A do alentejano, também. A do lisboeta … é um refúgio de medo, que isola de tudo, principalmente, do vizinho!

Felizmente, fui/sou pobre, africano, comuna … e alentejano! 

Infelizmente, vivo num apartamento fechado de Lisboa, rodeado por urbanitas, encerrados na ilusão de que vivem bem, porque têm uma boa casa ... vazia de afetos, fechada, de costas para o vizinho. Devia até ser numa vivenda: uma habitação «unifamiliar»! Cercada por muros, que isolam dos outros!

É assim por «todo o mundo» que se fecha na urbanidade. Em São Paulo, em Aveiro, em Singapura e Macau. Não é assim na África «antiga», no mundo rural, nos bairros de barracas de Portugal!

Quando aí vivi, era feliz! A casa estava cheia! Mais plena do que hoje sinto este confortável apartamento de Lisboa, esta habitação quase unifamiliar que me guarda atrás de uma porta fechada...!

Texto inspirado nas conversas que tenho com o Zé Fernandes e a Carla, nas orientações das suas dissertações de mestrado. Os segredos de sabedoria que estas palavras guardam são mais deles do que minhas, nascem nos nossos contínuos diálogos de aprendizagem. Não estamos fechados nos nossos urbanitismos! ;-) É adorável aprender com os que ensinamos ;-)

2 comentários:

  1. Caro primo, esta frase minha já deves ter lido mas como se relaciona com o teu maravilhoso texto aqui vai: a casa é a cabine de pilotagem do veículo espacial chamado Planeta Terra.

    Abraço

    Alberto Cidraes

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    1. Obrigado primo, EXCELENTE SENTIDO esse ;-)
      Tudo de bom,
      AC

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