terça-feira, 15 de abril de 2014

Empreendedorismo responsável

Queremos uma Humanidade Saudável e Feliz. Devemos aproveitar todos os contextos para aprender e para desenvolver uma atitude empreendedora e responsável. Precisamos de construir uma cultura libertadora que permita expressar os talentos. Assim desenvolveremos uma comunidade próspera e livre capaz de edificar a sua Felicidade.

Será que felicidade e prazer são a mesma coisa? A resposta é negativa. A Felicidade é um estado de Paz (interior e exterior) e Harmonia, que perdura no tempo e funda-se num sentido de construção da Humanidade. O Prazer, essa coisa maravilhosa que se sente quando se conquista uma vitória ou se pratica sexo, é efémero. Por vezes, tolda a nossa visão sobre a vida.
O Empreendedorismo é a chave da construção da Felicidade!
Insensato, dirá o leitor. Se assim é, porque vivemos numa sociedade à beira do colapso? O empreendedorismo de carácter empresarial, tem servido, acima de tudo, para criar uma economia baseada no consumo. Cria prazer, satisfaz as necessidades e desejos dos clientes e, de acordo com o pensamento económico e de gestão mais corrente, acelera os processos de circulação de mercadorias e bens para gerar riqueza. Por isso, cria a bebedeira do consumo, a cultura do efémero.
            Mas empreender não é só criar uma empresa com fins lucrativos e acelerar o ciclo dos produtos. Existe um outro leque de acções empreendedoras de extraordinária importância que prestigiaram Ghandi, Churchil, Madre Teresa de Calcutá, Einstein, Agostinho da Silva, entre outros.
Afinal, o que representa Empreendedorismo, essa palavra desconhecida dos dicionários portugueses?
É a capacidade de pensar, planear e concretizar uma acção, investindo energias e tempo, com um sentido determinado, obtendo resultados. No fundo, é o acto de «concretizar uma empresa» como a viagem de Vasco da Gama à Índia. Na componente económica, é a capacidade de transformar as ideias em mais-valias e em bem-estar, gerando processos de troca com valor acrescentado para as partes envolvidas. A virtude do empreendedorismo é a de concretizar o pensamento.
O Empreendedorismo é, acima de tudo, uma atitude que conjuga pensamento (de preferência consciente e responsável) e acção (respeitável). Algo que, em Portugal, é pouco desenvolvido em casa, raramente nas escolas e não é acarinhado nas empresas!
Esta atitude está presente quando nascemos!
Sem qualquer treino, desde esse momento, procuramos as condições para a sobrevivência. O acto de empreender baseia-se no mesmo processo de vontade que nos impulsiona para aprender a comunicar e a falar, a caminhar, a andar de bicicleta (assumindo riscos), a imitar os outros, sempre no sentido de alargar o poder de acção e de interacção. Está no nosso «código genético» de sobrevivência e crescimento.
Todavia, neste país simpático, essa vontade de crescer e de concretizar é maltratada na infância e na família onde a educação promove a repressão das ideias diferentes e da acção. Até dá prémios à inacção! Na escola, ensinamos as crianças a repetir em vez de criarem. Nos empregos, colocamos as pessoas debaixo das ordens de patrões e chefes de repartição, em vez de conviverem com líderes empreendedores e aprendentes. Vamos matando a atitude empreendedora, à medida que a criança se faz homem. Fazemo-lo de modo indolor e brilhante!
Belmiro de Azevedo tem razão quando afirma que Portugal tem poucos líderes. Também tem poucos empreendedores, poucos professores que desenvolvam talentos, poucos gestores que criem contextos organizacionais aprendentes e poucos pais que invistam verdadeiramente no apoio à auto-construção dos filhos!
Sem estes, é difícil manter a competência aprendente e empreendedora que permite que cada um construa a sua Felicidade com uma preocupação ética. É uma questão de educação.
Nos últimos anos, assistimos a uma mudança radical na sociedade e nas crenças do mundo ocidental. É uma transformação que tem como início a crise do petróleo de 1973, prolonga-se pelos anos oitenta com o pós-modernismo, passa pela Conferência do Rio e a elaboração da Agenda 21 em 1992, para se acentuar a partir de 1997 com a Web e a massificação da Internet. Este período, parece culminar com o 11 de Setembro, sublinhado pelo 11 de Março em Madrid. Nessas datas, ficou patente o horror que podemos viver se esta mudança for feita sem a integração de todos.
Este ciclo com cerca de 30 anos representa a infância e a juventude de uma nova sociedade global e de uma economia digital que não conhecíamos! Esta crise de crescimento da Humanidade, leva-nos à Sociedade do Conhecimento (e da Aprendizagem), uma sociedade globalizada pelo pensamento filosófico e científico e na acção dos mercados. É um novo mundo, que mal vislumbramos. Novos desafios e oportunidades.
Para o enfrentar, devemos construir uma atitude de matriz empreendedora e aprendente nas comunidades territoriais, nas organizações, nas equipas, nas famílias e nos indivíduos. Temos de promover ambientes de aprendizagem e de expressão das competências que permitam obter sucesso e felicidade.
Devemos, por isso, acarinhar um empreendedorismo empresarial responsável, humanista, aprendente e sustentável que, no campo empresarial, é desenvolvido com a abordagem de Responsabilidade Social das organizações (visível em www.ethos.org.br ou em www.bcsdportugal.org), um dos motores da mudança para a Sociedade do Conhecimento e da Aprendizagem.
            Mas, também precisamos de cultivar as lideranças democráticas e emancipadoras, a cultura da descoberta e do risco controlado, a cidadania. Sem estas, o extraordinário progresso da sociedade e da tecnologia que nos permitiu prolongar a esperança de vida desde os 40 até aos 90 anos, tem pouco sentido.
Aquilo a que assistimos agora, fruto de um mau empreendedorismo e do percurso histórico de uma sociedade insensata, é à vitória de uma visão míope que não responde ao âmago da questão: como construir felicidade para as pessoas?
Esta visão, desvalorizou continuamente a espiritualidade e a religiosidade, numa atitude que importa contrariar. A falta de cultivo da primeira, afasta-nos do sentido de coerência do indivíduo com a Humanidade, através das organizações e dos territórios, e a falta de atenção à segunda, desliga-nos dos princípios morais que equilibraram as sociedades. Esquece também os contributos dos pedagogos e filósofos do início do século 20 e as recentes descobertas das Neurociências sobre a componente da emoção e da vontade.
            Felizmente, a carência de uma cultura empreendedora, de aprendizagem de responsabilidade democrática e de cidadania pode ser contrariada pela acção consciente da família, das organizações, da comunidade e da escola. Basta que queiramos empreender nesse sentido, planeemos e invistamos nessa acção.

O tempo, encarrega-se do resto, e os nossos netos escreverão a nossa História!

Texto escrito em Março de 2006, numa altura em que tratava continuamente estes temas!

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