Queremos uma Humanidade Saudável
e Feliz. Devemos aproveitar todos os contextos para aprender e para desenvolver
uma atitude empreendedora e responsável. Precisamos de construir uma cultura
libertadora que permita expressar os talentos. Assim desenvolveremos uma
comunidade próspera e livre capaz de edificar a sua Felicidade.
Será que felicidade e prazer são
a mesma coisa? A resposta é negativa. A Felicidade é um estado de Paz (interior
e exterior) e Harmonia, que perdura no tempo e funda-se num sentido de
construção da Humanidade. O Prazer, essa coisa maravilhosa que se sente quando
se conquista uma vitória ou se pratica sexo, é efémero. Por vezes, tolda a
nossa visão sobre a vida.
O Empreendedorismo é a chave da
construção da Felicidade!
Insensato, dirá o leitor. Se
assim é, porque vivemos numa sociedade à beira do colapso? O empreendedorismo
de carácter empresarial, tem servido, acima de tudo, para criar uma economia
baseada no consumo. Cria prazer, satisfaz as necessidades e desejos dos
clientes e, de acordo com o pensamento económico e de gestão mais corrente,
acelera os processos de circulação de mercadorias e bens para gerar riqueza.
Por isso, cria a bebedeira do consumo, a cultura do efémero.
Mas
empreender não é só criar uma empresa com fins lucrativos e acelerar o ciclo
dos produtos. Existe um outro leque de acções empreendedoras de extraordinária
importância que prestigiaram Ghandi, Churchil, Madre Teresa de Calcutá, Einstein,
Agostinho da Silva, entre outros.
Afinal, o que representa Empreendedorismo,
essa palavra desconhecida dos dicionários portugueses?
É a capacidade de pensar, planear
e concretizar uma acção, investindo energias e tempo, com um sentido
determinado, obtendo resultados. No fundo, é o acto de «concretizar uma
empresa» como a viagem de Vasco da Gama à Índia. Na componente económica, é a capacidade
de transformar as ideias em mais-valias e em bem-estar, gerando processos de
troca com valor acrescentado para as partes envolvidas. A virtude do
empreendedorismo é a de concretizar o pensamento.
O Empreendedorismo é, acima de
tudo, uma atitude que conjuga pensamento (de preferência consciente e
responsável) e acção (respeitável). Algo que, em Portugal, é pouco desenvolvido
em casa, raramente nas escolas e não é acarinhado nas empresas!
Esta atitude está presente quando
nascemos!
Sem qualquer treino, desde esse
momento, procuramos as condições para a sobrevivência. O acto de empreender
baseia-se no mesmo processo de vontade que nos impulsiona para aprender a comunicar
e a falar, a caminhar, a andar de bicicleta (assumindo riscos), a imitar os
outros, sempre no sentido de alargar o poder de acção e de interacção. Está no
nosso «código genético» de sobrevivência e crescimento.
Todavia, neste país simpático,
essa vontade de crescer e de concretizar é maltratada na infância e na família
onde a educação promove a repressão das ideias diferentes e da acção. Até dá
prémios à inacção! Na escola, ensinamos as crianças a repetir em vez de criarem.
Nos empregos, colocamos as pessoas debaixo das ordens de patrões e chefes de
repartição, em vez de conviverem com líderes empreendedores e aprendentes. Vamos
matando a atitude empreendedora, à medida que a criança se faz homem. Fazemo-lo
de modo indolor e brilhante!
Belmiro de Azevedo tem razão
quando afirma que Portugal tem poucos líderes. Também tem poucos empreendedores,
poucos professores que desenvolvam talentos, poucos gestores que criem
contextos organizacionais aprendentes e poucos pais que invistam
verdadeiramente no apoio à auto-construção dos filhos!
Sem estes, é difícil manter a
competência aprendente e empreendedora que permite que cada um construa a sua
Felicidade com uma preocupação ética. É uma questão de educação.
Nos últimos anos, assistimos a
uma mudança radical na sociedade e nas crenças do mundo ocidental. É uma
transformação que tem como início a crise do petróleo de 1973, prolonga-se
pelos anos oitenta com o pós-modernismo, passa pela Conferência do Rio e a
elaboração da Agenda 21 em 1992, para se acentuar a partir de 1997 com a Web e
a massificação da Internet. Este período, parece culminar com o 11 de Setembro,
sublinhado pelo 11 de Março em Madrid. Nessas datas, ficou patente o horror que
podemos viver se esta mudança for feita sem a integração de todos.
Este ciclo com cerca de 30 anos
representa a infância e a juventude de uma nova sociedade global e de uma
economia digital que não conhecíamos! Esta crise de crescimento da Humanidade, leva-nos
à Sociedade do Conhecimento (e da Aprendizagem), uma sociedade globalizada pelo
pensamento filosófico e científico e na acção dos mercados. É um novo mundo,
que mal vislumbramos. Novos desafios e oportunidades.
Para o enfrentar, devemos construir
uma atitude de matriz empreendedora e aprendente nas comunidades territoriais,
nas organizações, nas equipas, nas famílias e nos indivíduos. Temos de promover
ambientes de aprendizagem e de expressão das competências que permitam obter
sucesso e felicidade.
Devemos, por isso, acarinhar um
empreendedorismo empresarial responsável, humanista, aprendente e sustentável
que, no campo empresarial, é desenvolvido com a abordagem de Responsabilidade
Social das organizações (visível em www.ethos.org.br
ou em www.bcsdportugal.org), um dos motores
da mudança para a Sociedade do Conhecimento e da Aprendizagem.
Mas, também
precisamos de cultivar as lideranças democráticas e emancipadoras, a cultura da
descoberta e do risco controlado, a cidadania. Sem estas, o extraordinário
progresso da sociedade e da tecnologia que nos permitiu prolongar a esperança
de vida desde os 40 até aos 90 anos, tem pouco sentido.
Aquilo a que assistimos agora,
fruto de um mau empreendedorismo e do percurso histórico de uma sociedade
insensata, é à vitória de uma visão míope que não responde ao âmago da questão:
como construir felicidade para as pessoas?
Esta visão, desvalorizou
continuamente a espiritualidade e a religiosidade, numa atitude que importa
contrariar. A falta de cultivo da primeira, afasta-nos do sentido de coerência
do indivíduo com a Humanidade, através das organizações e dos territórios, e a
falta de atenção à segunda, desliga-nos dos princípios morais que equilibraram
as sociedades. Esquece também os contributos dos pedagogos e filósofos do
início do século 20 e as recentes descobertas das Neurociências sobre a
componente da emoção e da vontade.
Felizmente,
a carência de uma cultura empreendedora, de aprendizagem de responsabilidade
democrática e de cidadania pode ser contrariada pela acção consciente da
família, das organizações, da comunidade e da escola. Basta que queiramos
empreender nesse sentido, planeemos e invistamos nessa acção.
O tempo, encarrega-se do resto, e
os nossos netos escreverão a nossa História!
Texto escrito em Março de 2006, numa altura em que tratava continuamente estes temas!
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