quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

«O gajo é uma besta!»


É comum ouvir sobre o médico: «o gajo é uma besta! Não se consegue falar com ele!» Pois é, por vezes, têm razão!

Alguns médicos especialistas, de renome, são insuportáveis! Estupidificam na inteligência. Treinaram-se para detectar pormenores, ver factos, casos. Eliminam a dimensão humana e relacional da sua análise. Isolam-se na arrogância do saber específico, limitado.

Tecnicamente actualizados, são rigorosos, informados, mas … incompetentes a comunicar. Usam uma linguagem codificada e incompreensível, esquecem a humanidade do «doente». Funcionam como máquinas treinadas para detectar falhas do corpo e definir ações curativas, olhando apenas uma parte do  sistema. Esquecendo o resto. 

Não são «bestas». Mas, antes, limitados na sua inteligência e na arrogância do «conhecimento específico». Alguns dão-se ao luxo de ter este comportamento no hospital (público), mas mudam radicalmente nos seus consultórios (privados). Têm mau carácter, parecem-se com «mercenários oportunistas»!

Um médico, é uma pessoa. Tem uma ética, uma moral e uma personalidade específicas, que marcam o seu Ser, o seu comportamento e as suas relações. Isto educa-se ... e aprende-se! 

Quando é que «as escolas» perceberão que as dimensões importantes da acção clínica são, também, a comunicação e a educação? 

Depois, alguns, admiram-se com o comportamento dos doentes!

terça-feira, 29 de janeiro de 2013

As circunstâncias constroem-se


Concordo com o que disse há dias o meu amigo João (Ferrão), numa entrevista com/sobre o Nuno Portas, na TSF: «há pessoas, como o Nuno, que criam as suas circunstâncias!».

Hoje (29.1.2013), teclando no facebook, perguntei aos meus ex-alunos por onde andavam. Tenho saudades de muitos deles, da sua irreverência e criatividade. Sei que alguns estão por fora, com grande alegria e sucesso. Outros estão cá, com um pouco menos de sucesso e outros, infelizmente ... continuam menos ativos, amedrontados! Os tempos não são muito fáceis!

Mas recolhi boas notícias, ótimos testemunhos. Muito diversos.

O Pedro respondeu-me assim: "Shenzhen, China. Fiz uma análise de mercado depois de 2 meses aqui às aranhas a ver todos os arquitectos a entregar portefólios e a receber o mesmo ordenado, fossem eles excelentes ou medíocres. Percebi algo. Uma brecha. As equipas de construção subcontratam ateliers de arquitectura para desenhar e os ateliers subcontratam empresas de construção para ir a concurso. Ofereci os meus serviços como chefe de equipa internacional de projecto de arquitectura. Ficaram interessados e recrutei 5 estrangeiros para trabalharem comigo. Estava descoberta a brecha no mercado. Por vezes é bom parar e pensar no que se pode mudar. Remar contra a maré não é solução. Há que sentar na margem um pouco e pensar em algo que ainda ninguém tenha reparado ;)"

A Teresa disse: «Boa tarde professor e colegas! No meu caso nem procurei trabalho em Lisboa. Candidatei-me um pouco para todo o mundo e, acabei por escolher Paris. Nao podia estar mais feliz com a minha escolha, a burocracia é simples e o pais organizado, tenho contracto de trabalho e salario para conseguir comer e viver a cidade. Trabalho em parceria para o Philippe Starck, e em termos de modo de trabalho é muito semelhante ao modo portugues, as leis sao diferentes, o neufret diferente, a lingua diferente, mas tudo se aprende rapido. A minha equipa é variada e internacional, para quem nao sabe o frances, o ingles é a lingua predominante. Recomendo em todos os aspectos emigrar. Nao sei por quanto tempo pretendo ser emigrante mas uma coisa é certa nao pretendo voltar a portugal tao cedo, cada vez mais sinto que tenho muito mais a aprender, viajar e conhecer. P.S. ha diversas a contratar estagiários por aqui. Beijinhos.» (…) «Se alguém precisar de ajuda por estes lados ou sitio para ficar durante entrevistas, sejam bem-vindos! »

O Nuno fez o seguinte comentário «Olá "eterno" Professor Álvaro. Não sei se está recordado de quem eu sou, mas eu lembro-me bem das suas aulas, marcaram o meu percurso académico e a forma de ver o Mundo. Por isso, muito Obrigado! Estava eu numa aula do 4º ano de Projeto e durante a conceção gráfica de um painel para apresentação descobri uma paixão, o design gráfico. Contra tudo e contra todos decidi seguir o meu sonho e apenas com uma mala de cartão e um sonho decidi empreender e já lá vão 12 meses que tenho um estúdio de Comunicação & Imagem (Ideiamagenta, lda.) no Porto Alto, ao lado de Vila Franca de Xira. Atualmente somos 3 pessoas. As coisas não são fáceis mas cá nos vamos aguentando. Temos de batalhar, apesar de muitas das vezes ser frustrante, o nosso (des)governo está a atrapalhar a vida de todos nós e principalmente dos Jovens que possuem Sonhos. Por isso, já temos um pé em Moçambique... Enfim, não querendo alongar-me mais, quero dar-lhe um grande abraço e quem sabe um dia nos voltemos a encontrar, é sempre bom conversar consigo.»

E a Ana concedeu-me as seguintes palavras: «Eu mudei o meu rumo. Agora procuro uma vida profissional gratificante no mundo dos animais como auxiliar de clínica veterinária, mas nunca me esqueci das aulas fantásticas do professor Álvaro. Gostava muito das de história e de estruturas com aquelas contas todas, mas o abrir horizontes e a forma como nos ensinou a expandir o pensamento foi fenomenal. Ainda me lembro da maneira como me explicou um semestre inteiro em 3 min. A panela de sopa com os ingredientes que queremos, fazemos o prato final à nossa maneira. As coisas acontecem como nós as levamos a acontecer e tudo se pode interligar. Foi no teste seguinte que tive uma boa nota. Mais uma vez, muito obrigada por ser o professor que é.»

Pois é, se calhar, o João (Ferrão) tem razão. Pelo menos, parte das circunstâncias constroem-se, conquistam-se. A outra parte, nem por isso, mas, vale a pena acreditar que sim, dá força para tentar ;-)

sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

Liberdade condicionada


Os instrumentos são apenas: ferramentas. Os homens bons usam-nas com ética e gostam de Paz. Desenvolvem o altruísmo e a compaixão. Tratam de robustecer e cultivar o seu carácter, que guia a acção, conferindo-lhe um cunho de decência, evitando o sofrimento alheio.

Outros há que, irresponsavelmente, são tolos da Barca do Inferno (de Gil Vicente), consumindo(-se) e lutando diariamente por riquezas para esbanjar, recorrendo a todas as ferramentas que encontram sem procurar! Divertem-se, por vezes, dão prazer, salpicam a vida de alegria e tristeza, mais ou menos regada com o álcool que podem beber.

Mas há um outro grupo, o dos maus, de baixo carácter, que se dedicam diariamente a extorquir as condições de Paz, Harmonia e Alegria dos outros. Todos eles se misturam nos mais variados contextos.

No Ocidente, que se expande pelo mundo, suportado na vã mentira do progresso, os bons ficam sem meios, com a liberdade condicionada. Os irresponsáveis perdem-se. Os maus têm o prazer de gozar com os outros. Normalmente, admiram os que se mostram em Davos.

De acordo com a minha moral (católica!), estes malandros deviam ser presos. Como os que matam, os que roubam a vida dos outros. Estes bandidos privam os bons e irresponsáveis de uma vida plenamente conseguida. Criam sofrimento contínuo. E gozam com isso!

É por saber estas coisas que tenho deixado de escrever. A consciência da estúpida maturidade, simplesmente, aconselha-me: «trabalha, torna-te tolo, deixa-te estar, deixa acontecer, na tua liberdade condicionada!»

terça-feira, 8 de janeiro de 2013

Boa educação


É tão bom chegar a uma loja e ser bem recebido. Entrar num café e ter um sorriso que acolhe, tudo estar organizado e limpo, sentir que o inesperado está programado. Ser surpreendido pela organização e a educação. Dá conforto e bem-estar. 

Este é o resultado de uma cultura e de um trabalho conjunto da família e da escola. É o fruto da educação consistente e decente que promove a qualidade de vida.

Quando a educação falha … cria a baixa tolerância à crítica e ao erro, dois importantes elementos de evolução e melhoria do indivíduo e das organizações. Promove a alta tolerância ao desleixo, à mentira e à irresponsabilidade.

Muitas vezes, a educação falha porque se confunde (na família e na escola) a liberdade criativa e o respeito com a falta de limites, a indisciplina e a irresponsabilidade, que não são contrariadas.

Sem se dar por isso, com esse modelo educativo, treina-se, desde pequeno, pessoas pouco rigorosas, mas críticas e exigentes com os outros, que não arriscam, com medo do erro. Criam-se seres que fogem às responsabilidades, que preferem não afirmar, esconder-se, passar despercebidos, para não serem postas em causa. São, normalmente, pessoa incapazes de empreender com respeito e responsabilidade.

O país, o nosso dia-a-dia, é o reflexo desta «boa educação»!